Coluna Gustavo Almeida

A histórica frase dita há 56 anos que se aplica perfeitamente às eleições atuais

OPINIÃO: Declarações, ainda que gravadas ou documentadas, não valem mais nada para uma parcela de políticos.

Comportamento de parte dos políticos é cada vez mais esquisito nos dias atuais (Reprodução/Internet)

Comportamento de parte dos políticos é cada vez mais esquisito nos dias atuais (Reprodução/Internet)

25 de julho de 2024 às 11:40
3 min de leitura

Uma das frases mais marcantes da história brasileira foi proferida no dia 13 de dezembro de 1968. O Brasil vivia sob o regime militar instalado quatro anos antes com o Golpe de 1964. Numa reunião do então presidente Costa e Silva com ministros membros do Conselho de Segurança Nacional para discutir a edição do Ato Institucional Nº 5 - o mais pesado da ditadura - uma frase do ministro do Trabalho Jarbas Passarinho entraria para a história.

Diante da proposição do AI-5, Passarinho disse que ele e todos os demais presentes repugnavam que o Brasil caminhasse para uma "ditadura pura e simples", contudo, defensor do Governo, logo em seguida concordou com o endurecimento do regime e disse que naquele momento a própria consciência deveria ser jogada fora. Foi aí que veio a célebre frase:

"Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência."

A histórica frase de Jarbas Passarinho dita 56 anos atrás pode ser facilmente aplicada para definir o comportamento de uma parcela significativa dos políticos de Teresina e do Piauí nas eleições municipais deste ano. Muitos deles jogam às favas os escrúpulos de suas próprias consciências ao mudarem de lado e se contradizerem em intervalo tão rápido de tempo.

Na política, as mudanças de lado, as contradições e as negociatas dos homens públicos sempre foram comuns. Contudo, a realidade atual elevou a um nível jamais visto a quantidade e a forma como políticos trocam de posição, mudam de lado, rasgam o próprio passado e atropelam o que eles mesmos falaram há tão pouco tempo. Declarações, ainda que gravadas ou documentadas, não valem mais absolutamente nada para uma parcela que, em troca de uma vantagem qualquer, lançam às favas os escrúpulos de consciência sem nenhum constrangimento ou cerimônia. O fazem igualmente trocam de cueca.

Hoje o sujeito diz uma coisa, pronuncia um "jamais farei isso" e, dias ou até horas depois, faz exatamente aquilo que tanto garantia nunca fazer. O pior de tudo é que após rasgarem tudo o que falaram ou fizeram, ainda tentam forçar a sociedade a engolir os argumentos mais tacanhos possíveis, como se todo cidadão fosse ignorante, ingênuo ou mesmo sem escrúpulos, como eles próprios. Esse comportamento, que fique claro, é visto em diferentes espectros políticos.

Grande parte do eleitor brasileiro, infelizmente, contribui para chancelar essa triste realidade. Por razões diversas acabam se deixando, conscientemente ou não, serem usados cada vez mais fortemente como massa de manobra. Uns são vulneráveis por pobreza, pouca instrução ou dependência de alguma ordem. Outros, assim como tais políticos, jogam às favas os escrúpulos da própria consciência. Passadas quase seis décadas, a frase de Jarbas Passarinho nunca esteve tão atual na política.

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