Além de genro e filhas, primo de prefeita também foi aprovado em 1º; MP abre investigação
Promotor quer relação de pessoas que participaram de cada etapa do concurso, do armazenamento ao transporte das provas. Prefeita foi notificada.
Após esta coluna revelar em primeira mão na última terça-feira (23) que duas filhas e um genro da prefeita de Tamboril do Piauí, Ana Delcides Figueiredo (MDB), passaram nas primeiras colocações em um concurso da prefeitura do município, novas suspeitas de fraude no certame começam a surgir. Após a repercussão do caso, veio à tona que outro parente da gestora também foi aprovado em 1º lugar para o cargo ao qual concorreu.
Everaldo Teodósio da Silva, primo da prefeita Delcides, foi aprovado para a única vaga de professor SL superior com licenciatura em matemática. Ele alcançou 95 pontos na prova objetiva, bem perto da nota máxima de 100 pontos. O segundo colocado alcançou apenas 79 pontos.
Na manhã da última terça-feira, a coluna revelou com exclusividade que Ravena Figueiredo Guedes, filha da prefeita, ficou em 1º lugar para a única vaga de médico veterinário. O marido de Ravena, Kamuel Kessler Barbosa ficou em 1º para a única vaga de motorista e a outra filha, Raíssa Figueiredo Guedes, ficou em 1º para uma das duas vagas de nutricionista. Com o primo, são quatro parentes da prefeita em 1º lugar no concurso.
MP abre investigação
Depois da coluna revelar o caso, oito pessoas, entre elas alguns candidatos que não foram aprovados, ofereceram denúncia na Promotoria de Justiça de Canto do Buriti, que abrange o município de Tamboril do Piauí.
Além disso, a Promotoria tomou conhecimento que uma cunhada das filhas da prefeita, de nome Teresa Cristina Piauilino de Aguiar Guedes, é integrante titular da comissão especial de concurso público do município de Tamboril. Nesse caso, conforme o próprio edital no seu item 12.4, a participação das filhas da prefeita no concurso ficaria proibida pelo fato de serem parentes, consanguíneos ou por afinidade, em linha reta ou colateral, de membro da comissão.
Veja o que diz o item 12.4: "Não poderão participar do Concurso Público, os membros da comissão deste certame e os profissionais responsáveis pela elaboração das provas objetivas, assim como seus parentes consanguíneos ou por afinidade, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau".
Diante dos fatos, o promotor de Justiça Yan Walter Carvalho Cavalcante acolheu notícia de fato (denúncia) e abriu apuração para investigar as fortes suspeitas de fraude no concurso. A prefeita Ana Delcides Figueiredo e a empresa Fenaz do Pará, banca responsável por aplicar o concurso, foram notificadas a prestar esclarecimentos.
O promotor solicitou cópia dos cartões-resposta dos aprovados para os cargos de motorista, nutricionista, médico veterinário e de professor com licenciatura em matemática. Solicitou ainda a relação dos responsáveis pela elaboração da prova e relação das pessoas que tinham o gabarito das provas para os respectivos cargos.
O promotor quer ainda saber quem eram os responsáveis pela elaboração das provas e pelo acesso ao gabarito (toda a cadeia de pessoas que tiveram acesso ao gabarito); relação dos funcionários/servidores/terceirizados responsáveis pelo transporte das provas até os locais em que foram aplicadas; local em que a prova foi armazenada antes da aplicação, listas de presenças e atas de aplicação das provas.
A empresa Fenaz do Pará e a prefeita Ana Delcides Figueiredo terão prazo de cinco dias corridos para apresentar todas essas informações à Promotoria. A abertura da apuração foi oficializada em portaria nesta sexta-feira (26).
Silêncio absoluto
Desde quando revelou o caso, a coluna tem tentado contato com a prefeita Delcides Figueiredo e com a empresa Fenaz do Pará. Porém, nem a gestora nem a empresa respondem às tentativas de contato.