Coluna Gustavo Almeida

Compensa abusar na pré-campanha e fechar com chave de ouro na convenção

Ao longo de mais de um ano, vimos escancarados abusos, comícios disfarçados e uma série de outras situações.

Com omissão das instituições, ignorar a legislação virou regra. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Com omissão das instituições, ignorar a legislação virou regra. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

05 de agosto de 2024 às 11:20
6 min de leitura

Termina nesta segunda-feira (5) o prazo para partidos políticos realizarem convenções e homologarem candidaturas a prefeito, vice-prefeito e vereador. Já está chegando ao fim também o período da chamada pré-campanha, lorota que se instituiu legalmente para que políticos estejam em campanha antecipada e tenham o argumento de que não é. No próximo dia 16 começa aquilo que, para a Justiça Eleitoral, é campanha, como se tudo visto até aqui não fosse.

Ao longo de mais de um ano, vimos escancarados abusos, comícios disfarçados com o nome de "evento de organização do processo eleitoral" e uma série de outras situações. Pré-candidatos (que não podem ser chamados de candidatos) fazem tudo que candidatos fazem. Na verdade, até o que candidatos não deveriam fazer.

Não podem pedir votos, mas pedem apoio, pedem para o povo "abraçar o projeto", pedem para as pessoas lhes darem "a oportunidade de governar". Numa comparação tosca, é como se um homem quisesse ficar com uma moça, mas não pudesse falar em claras palavras. Contudo, pode chamá-la para "uma saída a sós durante a noite".

Nas convenções partidárias, os abusos se seguiram de norte a sul do Piauí. As recomendações do insosso MP Eleitoral e da Justiça Eleitoral são tratadas com desdém por políticos que sabem que compensa abusar da lei porque o custo-benefício é positivo. A imagem de uma convenção lotada, independentemente de como se construiu a lotação, se sobrepõe ao prejuízo bobo de eventuais multas ou pequenas sanções impostas pela Justiça, quando elas existem.

Não bastasse ter eleições de dois em dois anos, o que é nocivo ao País, a libertinagem das pré-campanhas faz com que algumas regiões do Brasil vivam o tempo inteiro em campanha. No Piauí, onde o debate eleitoral é claramente mais provinciano do que na maioria dos outros estados, essa situação é ainda mais agravada. Por aqui, aparentemente, tudo pode!

OUTROS ASSUNTOS

| Crítica do vereador

Ver. Aluísio Sampaio (Foto: Gustavo Almeida/Lupa1)

O vereador de Teresina Aluísio Sampaio (Progressistas) usou as redes sociais para criticar a iniciativa da Secretaria de Segurança do Piauí de notificar donos de imóveis abandonados no Centro da capital e anunciar sanções caso estes não tomem providências. Para Aluísio, os donos de imóveis são as vítimas do abandono do Centro e não culpados. "A Secretaria de Segurança Pública não pode punir os proprietários de imóveis do Centro de Teresina, as verdadeiras vítimas da desertificação da região. Primeiro se deve melhorar a segurança e estabelecer políticas públicas para atrair novos moradores e investidores.", defendeu Aluísio.

| Nada de camisetas

Convenção de Zé Alberto (Reprodução/Instagram)

Aconteceu na noite do sábado (3) a convenção que homologou em Oeiras a candidatura de Zé Alberto (PSD) a prefeito do município, com apoio do atual prefeito Zé Raimundo. Um dia antes, o juiz Rafael Palludo, da 5ª Zona Eleitoral da cidade, proibiu o grupo político de Zé Alberto de distribuir camisetas e outros brindes para eleitores. A decisão se deu porque centenas de camisas com a frase "Todos com o Zé" foram feitas e a distribuição estava sendo anunciada de forma escancarada na internet por membros da campanha de Zé Alberto. Nos vídeos, era informado o endereço onde as pessoas poderiam passar para pegar as camisetas. A gente vê coisa!

| Passos de tartaruga

Ainda sobre Oeiras, o Ministério Público Eleitoral denunciou, somente agora, o prefeito Zé Raimundo e Nestor de Carvalho Júnior por compra de votos nas eleições municipais de 2016. Na época, Nestor, que era candidato a vereador, foi preso em flagrante com dinheiro e outros materiais que supostamente seriam usados para compra de votos. O inquérito da Polícia Federal, que também tardou a ser concluído e só foi finalizado por pressão do MP, concluiu que o dinheiro fora repassado por Zé Raimundo, que na época concorria ao primeiro mandato de prefeito. Somente agora, 8 anos depois (Zé Raimundo foi até reeleito nesse intervalo), o MP Eleitoral conseguiu oferecer denúncia contra os dois. Uma vez aceita pela Justiça, ambos vão virar réus por compra de votos. De todo modo, a lentidão do sistema de Justiça já os beneficiou.

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