Coluna Gustavo Almeida

Em artigo no Estadão, Flávio Nogueira aborda avanço do etarismo na política

Para o deputado, percepção de que homens e mulheres com idades avançadas são incapazes de seguir na vida pública é um equívoco.

Deputado Flávio Nogueira (Reprodução/TV Câmara)

Deputado Flávio Nogueira (Reprodução/TV Câmara)

29 de agosto de 2024 às 22:20
5 min de leitura

O jornal O Estado de S. Paulo publicou na quarta-feira (28) um artigo assinado pelo deputado federal Flávio Nogueira (PT-PI). Na publicação, o parlamentar piauiense fala sobre o etarismo (preconceito e discriminação devido à idade) que floresce na política atual, principalmente, segundo ele, em parte da mídia. Para Nogueira, a mídia tenta vitimar, e às vezes consegue, as pessoas de idade avançada, demonstrando preconceito contra elas.

Citando o conto “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway, o deputado transpõe a realidade tratada na obra para o mundo atual e aponta o claro crescimento do etarismo na política brasileira. Na avaliação dele, a percepção de que pessoas com idades avançadas não são capazes de seguir na vida pública é um grande equívoco.

"Sabemos que é comum haver dúvidas quanto ao bom sucesso do idoso em chegar ao fim da missão a que se empenha – dúvidas que são expressas, principalmente, pelas pessoas de idade mais jovem. Entretanto, muitas vezes, o homem consegue realizar a sua mais importante e produtiva obra na faixa da idade mais avançada de sua vida", diz.

Nogueira destaca que o fato da pessoa ser anciã nem sempre é empecilho à possibilidade de apresentar bons frutos e produzir uma boa obra. "A vida dos que buscam o bem e o bom é cheia de luta que, quando na plena velhice, recobre o coração com a experiência adquirida com sensações e sentimentos pertinentes a cada um."

Ao tempo em que condena o etarismo, Flávio Nogueira reconhece que alguns políticos de idade muito avançada, na insistência de quererem seguir na vida pública, acabam comprometendo toda uma carreira de sucesso conquistada. Segundo ele, existem, de fato, alguns casos de decrepitude pessoal que comprometem o exercício de cargos.

"Realmente, ocorrem fatos que desdouram homens públicos de idade muito avançada no afã de persistirem de forma inglória numa carreira comprometida pela decrepitude pessoal que impede a lucidez imprescindível para o exercício de cargos e funções que exijam o discurso e a prática calcada na realidade", considera o deputado no artigo.

O médico e deputado federal Flávio Nogueira, do PT

O caso Joe Biden

Flávio Nogueira citou na publicação o caso do presidente norte-americano Joe Biden, que tem 81 anos e recuou da disputa à reeleição após repetidos episódios públicos de falta de lucidez. Contudo, Nogueira chama atenção para o fato de que o exemplo de Biden não pode ser usado para justificar o etarismo.

"Há de se atentar para o fato de que o motivo da retirada da sua candidatura não pode ser usado como munição para uso dos etaristas de plantão, visto que o candidato que se lhe opõe, o republicano Donald Trump, lhe regula em idade próxima, mas está longe de apresentar sintomas de falha de memória ou de qualquer demência que o impeça de concorrer ao cargo de presidente daquele país. Portanto, o que obstaculiza John Biden não é a idade avançada em si", observa.

Novos também decepcionam

O parlamentar ainda menciona no artigo exemplos de velhos que conseguiram enfrentar diversidades e fizeram história, enquanto, por outro lado, não faltam exemplos de jovens políticos que fracassaram mesmo depois de grandes expectativas terem sido lançadas sobre eles.

"É fato notório que muitos velhos conseguem lutar, enfrentando adversidades pelo bem dos outros (basta mirarmo-nos em grandes vultos longevos como Konrad Adenauer e Winston Churchill) e que, infelizmente, há jovens homens públicos que, embora bem intencionados, desprezam a aprendizagem necessária para lograr atingir os seus objetivos, não conseguindo ir até o fim de suas metas, naufragando em um mar de vicissitudes (haja vista o ocorrido com os ex-presidentes Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor)", cita.

Conhecido pelo estilo intelectual e por ser admirador de grandes biografias, Flávio Nogueira encerra a publicação lamentando o avanço do etarismo. Ele chama atenção para o fato de que muitas figuras de biografias extensas acabam sendo questionadas nos tempos atuais pelo simples fato da idade que possuem.

"Assim, da releitura do conto 'O Velho e o Mar', de Ernest Hemingway, enuncio essas minhas observações numa época de predominância do etarismo, principalmente na política, quando valiosas carreiras de extensa idade são questionadas, tencionando-se a fabricação de vetos a pessoas de memorável história pessoal", conclui.

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