Coluna Gustavo Almeida

OPINIÃO: Nem a Justiça Eleitoral colabora para que os bons entrem na política

O abuso do poder político e econômico foi normalizado e se gabar de "estrutura" para ganhar eleição virou motivo de orgulho.

Sede do Tribunal Superior Eleitoral (Divulgação/TSE)

Sede do Tribunal Superior Eleitoral (Divulgação/TSE)

27 de agosto de 2024 às 10:55
4 min de leitura

Quem senta para conversar com políticos, mesmo alguns já tarimbados, ouve relatos de que está cada vez mais difícil disputar eleições. A compra de votos - que nunca foi novidade - está em um nível jamais visto. O abuso do poder político e econômico foi normalizado e se gabar que tem "estrutura" para ganhar eleição virou motivo de orgulho. O uso desenfreado da máquina pública (nesse caso para quem está no poder ou ligado a ele) também atingiu nível desavergonhado e é tratado como "normal".

Nem mesmo a imprensa condena aquilo que deveria condenar. Em vez de adotar um tom crítico sobre determinadas condutas políticas, muitos profissionais de mídia fazem análises como se tais condutas fossem legais e normais. O abuso do poder político e econômico não deveria, jamais, ser tratado como trunfo de um candidato ou de um partido. Ilegalidades podem ser comuns, mas não devem ser normais. Comum não é o mesmo que normal. Uma doença pode ser comum, mas segue sendo doença. E se é doença, não é normal.

Se até para os políticos milionários e tradicionais a disputa de eleição ficou difícil, imagine para um cidadão que tem pouco dinheiro. Se para os desonestos e "espertos" as disputas eleitorais estão complicadas devido à grande concorrência com sujeitos do mesmo tipo, imagine para quem faz as coisas corretas. Não se trata, aqui, de sonhar com a utopia de eleições 100% limpas e com candidatos santos ou metidos a santos, afinal, isso não existe. Porém, o que não pode ser normalizado é essa política que se transformou num esgoto onde praticamente só os espertos têm vez e raros são os que agem diferente.

Nesse contexto, a Justiça Eleitoral tem fracassado vergonhosamente. Num País onde os compadrios de bastidores ditam os rumos e também são normalizados, o poder que deveria garantir pelo menos minimamente a lisura e o equilíbrio do processo eleitoral assiste aos abusos de forma quase inerte. Os crimes acontecem aos montes e os órgãos fiscalizadores pouco ou quase nada fazem para coibir. Os discursos bonitos de membros do Judiciário falando sobre "eleições limpas", "lisura" e "festa da democracia" não se sustentam na prática.

Por falar em democracia, a naturalização do "poder das estruturas" e a banalização dos abusos nas eleições se configura muito mais um atentado à democracia do que uma pedra que um fanático baderneiro atira contra a sede de um poder.

Diante da omissão da Justiça Eleitoral e da certeza dos poderosos de que a "estrutura" fala mais alto em uma disputa eleitoral, os bons estão cada vez mais longe da política e incrédulos com a atividade pública. É cada vez menor a quantidade dos que resistem ao atropelamento provocado pelas grandes estruturas. Esse processo foi sendo construído ao longo dos últimos anos e pouco ou quase nada foi feito para contê-lo. E a tendência, pelo que se vê, é piorar cada vez mais. Bom para os ruins, ruim para os bons.

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