OPINIÃO: Prefeitos dão festas ao povo, mas são eles que sambam na cara da sociedade
Poder público deve ofertar lazer e cultura ao povo, contudo, é absurdo que prefeituras de cidades carentes gastem tanto dinheiro com festas.
De uns tempos para cá, temos visto com certa frequência polêmicas em torno de contratações caras - muitas delas milionárias - feitas por prefeitos para shows e festas em suas cidades. Em muitos casos, salta aos olhos o fato de que faltam nessas mesmas cidades serviços básicos, mas não falta dinheiro para contratar grandes artistas.
No último dia 29 de abril, o Ministério Público do Estado do Piauí (MP-PI) ingressou com uma ação civil pública para tentar impedir que o prefeito da pequena cidade de São Pedro do Piauí, Júnior Bill (Progressistas), gaste R$ 2,5 milhões com atrações para os festejos locais, que vão acontecer de 12 a 29 de junho. Entre as atrações confirmadas estão Wesley Safadão, Paulo Ricardo, Joelma e a dupla Maiara e Maraísa.
O caso de São Pedro do Piauí é apenas o extrato de um comportamento de muitos prefeitos que virou realidade nos municípios do Piauí e em outras cidades do interior do Brasil. Gestores que acham mais vantajoso dar o "pão e o circo" para o povo do que garantir serviços públicos de qualidade e gastar com coisas mais prioritárias.
O povo tem direito ao lazer e também é papel do poder público ofertar cultura e diversão, contudo, é absurdo que prefeituras de cidades carentes e repletas de problemas gastem tanto dinheiro com festanças. Em muitas delas falta saneamento, hospitais, empregos, água, moradia, mas não falta dinheiro para grandes shows.
Em anos eleitorais, como agora em 2024, a farra com dinheiro público para festas toma dimensões ainda maiores. Infelizmente, grande parcela da população, muitos por falta de conhecimento, acaba passando pano para esse tipo de absurdo. Sabendo disso, os gestores do interior se sentem à vontade para oferecer "pão e circo" porque sabem que o povo aplaude muito mais um festejo com atrações nacionais do que a construção de um posto de saúde.
No ano da eleição, fazer um grande festejo dá mais retorno político do que trabalhar em outras frentes. O prefeito sabe que muitos dos que cantam e dançam numa festa que custou caro aos cofres públicos são os mesmos que não se indignam com a falta de remédio no posto de saúde da comunidade, nem com o esgoto na rua onde mora.
Se valendo disso, muitos gestores municipais torram milhões enquanto seus municípios padecem. Em janeiro, o prefeito da cidade baiana de Campo Alegre de Lourdes contratou um show do cantor Gusttavo Lima por R$ 1,3 milhão. O caso ganhou repercussão nacional porque a cidade estava, pasmem, em situação de emergência devido à seca.
Os órgãos de controle e a própria Justiça são omissos com essa falta de vergonha, mas é preciso apontar que o povo é o primeiro a aceitar esse tipo de absurdo. Se a sociedade demonstrasse repulsa com a gastança exagerada de dinheiro público em shows e festas, os políticos começariam a pensar duas vezes antes de abusar dessa prática.
O povo tem que entender que os gestores dão a festa, o pão e o circo, mas são eles que sambam na cara da sociedade.