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Nova geração de políticos é definida pela sociedade digital 4.0

Ninguém quer correr o risco de ser cancelado, virar alvo de haters e ter que fechar a conta.

Inteligência Artificial - Foto: Pixabay

Inteligência Artificial - Foto: Pixabay

25 de maio de 2024 às 10:51
14 min de leitura

O mundo está em transição. Acelerado pelas mudanças climáticas e direcionado pela transição energética, que contagia tudo. O conceito de sustentabilidade foi absorvido e é aplicado de forma horizontalizada. Quem está no circuito que recicla, defende o meio ambiente, sabe usar as redes e a inteligência artificial, está integrado à mentalidade que já governa e vai governar o mundo por muito tempo.

Não é mais ficção científica. A sociedade 4.0 já está operando. A energia limpa e a IA são as principais ferramentas que vão remodelar o mapa da geopolítica e da economia global. Quem criar, aprimorar, dominar as novas tecnologias em benefício de seu povo e de seus aliados, terá o cetro da governança e será o modelo de transformação que estamos atravessando. Muitos sinalizadores da mudança estão claros. Todos podem ver. Alguns estão submersos. Poucos percebem.

Inteligência Artificial - Foto: PixabayA juventude vai puxando, na vanguarda da metamorfose social, a corda que arrasta com vigor para o progresso. A presença maciça de jovens pilotando as redes e os laboratórios de pesquisas, confirma que os elementos que escrevem a história se repetem. A mocidade é a responsável por desenvolver a ponte e facilitar a travessia. Ela também vai redefinindo o perfil de representação que quer para si. Inclusive política.

Um novo perfil político

Algumas mudanças acontecem em silêncio, mas deixam vestígios. Com pistas valiosas diante do contexto, é possível rascunhar a silhueta do novo modelo de político, orientado pela forma de se comunicar do jovem. É preciso ajustar a sintonia e entender as camadas envolvidas. Não é apenas entrar na rede e despejar um conteúdo volumoso e colorido que, supostamente, possa entrar no campo de atenção de uma faixa etária.

É um pouco mais. É necessário aprender o idioma, que é o mesmo, mas o formato da comunicação é diferente. As nuances apontam os indicadores e as zonas de interesse, o que prende, segura e mantém a conexão com os espectadores e eleitores em potencial. Político de qualquer gênero que compreender a reforma que se dá em toque de marcha, tem mais chances de prosperar na era do “voto digital”.

A assessoria de comunicação e marketing do político tem que entrar no ambiente de rede, saber dialogar com o jovem conectado, acolher suas demandas e promover um relacionamento. Tudo isso deve ser feito, mas não basta. Para não ser encarado como um perfil inautêntico, tem que embarcar na mesma viagem.

O personagem político bem-sucedido é aquele que sabe mergulhar no fluxo de rede, engajar, viralizar e agir como influencer. Ser um deles. O futuro eleitor vai escolher por identificação, que gera a sensação de pertencimento. Um elemento estranho a este tipo de ambiente não tem a mínima chance. O distanciamento do universo do eleitor pode ser o afastamento de uma eleição.

Governador Rafael Fonteles - Foto: Reprodução

Tudo isso vem à tona no pleito deste ano. Ou melhor, já está em operação. A cada eleição, novas regras são aditadas numa construção permanente e evolutiva do texto que regulamenta o processo eleitoral. Com o passar dos anos, o período oficial de campanha foi encolhendo.

Em compensação, a pré-campanha cresceu. Parece que os políticos estão sempre em pré-campanha. E os “personagens políticos digitais”, especialmente os que vão à disputa em outubro, estão com suas plataformas abarrotadas de conteúdo para as redes. Os que não estão, gostariam de estar.

“Políticos digitais”

A sociedade que está sempre em rede ainda vai avançar muito na qualidade da comunicação e serviços por meio da social media. Há um domínio dos algoritmos que influenciam no e-commerce, no conteúdo que é ofertado e tudo operado por nossos próprios interesses. Somos stalkeados e escaneados em nossos desejos de consumo, o que demoramos mais os olhos na tela, quando repetimos o vídeo, o meme que baixamos, o texto que voltamos a ler, o tema do print que fazemos, as postagens que recebem like, o filme e a série que assistimos, são os parâmetros que nos identificam à IA.

A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, lançou documento com 44 páginas em novembro de 2021, preocupada com as consequências da chegada da inteligência artificial e norteando as fronteiras éticas. Há uma lúcida preocupação com as oportunidades que podem escassear e com as desigualdades que podem aumentar, considerando o crescimento da robotização de muitos postos de trabalho. Temas que vão emergir brevemente, obrigando o Legislativo a construir marco regulatório. A conferir.

Independente dos protocolos que vão regrar o novo mundo digital, a política, que permeia tudo, vai exercendo seu poder de permanecer no cotidiano de seus eleitores. Reencontrando o caminho de acesso, basta personalizar a forma de se comunicar com os potenciais apoiadores. Quem segue nas redes, também pode confirmar a preferência nas urnas. O número de seguidores é diretamente proporcional à capacidade do político digital em engajar a sua mensagem e captar o sufrágio universal.

Políticos eleitos que fizeram campanha apenas pelas redes sociais, são fenômenos que precisam de um olhar bem atento para compreender como se deu a eleição. Outsiders têm mais chances de lograr êxito nestas condições. Livres dos índices de rejeição comuns em políticos de carreira, com uma plataforma política clara, geralmente de um nicho muito segmentado, praticamente não precisam sair de casa para angariar a confiança que os elege. Mas precisa ter serviço prestado. Muito.

Thanandra Sarapatinhas - Foto: Gustavo Almeida/ Lupa1

Foi o caso da vereadora por Teresina, Thanandra Sarapatinhas, eleita em 2020 pelo Patriota, hoje no Republicanos. Pretende repetir a dose este ano. O cenário é outro. Voltar ao mesmo desempenho e conquistar mais de 3 mil votos organicamente será um grande desafio. O natural desgaste do primeiro mandato vai refletir e serão necessárias outras ações para manter apoiadores e conquistar novos eleitores.

No caso da defensora dos animais, o panorama ganhou outras lideranças do mesmo setor que se fortaleceram, vão intensificar a disputa e dividir os votos da proteção animal. A fragmentação do eleitorado deve diluir os votantes, correndo o risco de nenhum se eleger. Todos têm forte atuação nas redes sociais.

Há político jovem que vem trabalhando paulatinamente as suas redes e intensificando a sua conexão digital. A capilaridade que consegue nas visitas presenciais também são refletidas no avanço da relevância das postagens. O crescimento orgânico e contínuo é perseguido por muitos, mas só quem consegue elaborar e executar um perfil de conteúdo regular e autêntico cresce. A manutenção dos seguidores mobilizados depende do material que circula no feed e nos stories.

Governador Rafael Fonteles e secretários - Foto: Reprodução

Outros nomes, que nunca foram testados, estão levantando as condições para o pleito seguinte, 2026. A aposta maior está em mudar o panorama no Legislativo Federal. É cada dia mais claro o trabalho sistemático de presença nas redes, de aprimoramento da construção da imagem, física e moral. Da ocupação dos espaços. Algo quase onipresente, trazendo holofotes para as atividades públicas e o dia a dia do “político digital”. Um papel que não dá para interpretar por muito tempo. Tem que ser genuíno. O internauta não deixa passar quem queira usar um “disfarce”, nem o eleitor. Ninguém quer correr o risco de ser cancelado, virar alvo de haters e ter que fechar a conta.

Geração de políticos 4.0

Os futurólogos preveem que a bancada federal do Piauí pode mudar entre 30% e 50%, em 2026. A conta é apresentada na ponta do lápis, sendo o perfil de “político digital” o principal fator de mudança que vai abrir as cortinas para um novo cenário que se aproxima. Seguindo os passos do Governo Digital, do governador digital Rafael Fonteles, quem trabalha com a perspectiva de concorrer à Câmara Federal, já está em pré-campanha.

Câmara Federal - Foto: Myke Sena/ Câmara dos Deputados

Quem está na gestão, vem trabalhando intensamente a visibilidade das ações, a projeção do nome e da imagem e, principalmente, o jeito de ser digital. Aproximando o relacionamento com os seguidores. Cada um encontra a sua marca de personalização da mensagem, diminuindo os ruídos na transmissão e o combate às fake news e desinformação. Quem estiver bem situado na avaliação estatística sempre será alvo dos ataques cibernéticos.

A transição que abre espaço à chegada de uma nova geração de políticos acontece sem crise. Muitos nem vão perceber a transformação. Algo comparado à sistemática da Teoria da Evolução do cientista britânico, Charles Darwin. O ambiente está em constante alteração. A seleção natural daqueles indivíduos que são mais propensos a adaptarem-se às mudanças, têm mais chance de sobrevivência.

Não é a força nem a inteligência que são determinantes. É a capacidade de se encaixar, de se conectar, de se ajustar em meio às metamorfoses. Quem conseguir ver isso a tempo e acomodar-se ao novo terreno, garante a vantagem sobre os concorrentes, determinando quem vai seguir em frente. Onde a competitividade já é intensa, ganha mais um filtro para aumentar o grau de dificuldade para alcançar uma cadeira no parlamento federal. Os políticos da geração digital estão prontos para assumir seus postos.

Câmara Federal - Foto: Divulgação/ Agência Câmara de Notícias

Não será um caminho facilitado. No período de transição, a resistência aos novos tempos vai lutar com todas as suas forças e inteligência pela sobrevivência. Porém, se não alcançar a capacidade de se adaptar à sociedade da política 4.0, não vai perdurar. Uma cláusula de barreira natural vai aposentar vários. Ou fazer descer, mudando de status para competir a um mandato em outro patamar. O Mundo digital traçou seus próprios critérios para reformar e constituir uma nova geração de políticos.

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