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Rafael inicia revitalização do Centro com decreto de desapropriação do Cine Rex

Amanhã (08), a partir das 19h, os artistas vão reunir-se na frente do Cine Rex para festejar a vitória com shows.

Cine Rex - Foto: Willian Tito

Cine Rex - Foto: Willian Tito

07 de agosto de 2024 às 15:00
30 min de leitura

O Diário Oficial do Estado da última sexta-feira, 2, edição 151/24, trouxe a publicação do Decreto Nº 23.192, de 30 de julho de 2024, que “Declara de utilidade pública para fins de desapropriação, o imóvel “Cine Rex”, localizado na Praça Pedro II, nº 1301, no Município de Teresina - PI”. É o cabeçalho do documento de duas páginas.

Foto sem datação do acervo particular de Benjamin Menezes.

O governador Rafael Fonteles foi rápido e pragmático como um bom e jovem político em ascenção nacional. Com quase 90% de aprovação de sua gestão, que advém de multi fatores, um chama a atenção. A resolutividade. Sua equipe trabalha com metas bem definidas, que são acompanhadas de perto por quem bota no papel. O resultado está a olhos vistos. A pesquisa positiva foi publicada no último domingo, 4, com dados colhidos pelo instituto Datamax.

O decreto reflete anseios sociais de longas datas. Há cerca de 10 anos o velho cinema está fechado. Em janeiro de 2021, o atual prefeito de Teresina, Dr. José Pessoa Leal, tentou utilizar o prédio para abrigar as pessoas em situação de rua. Os artistas manifestaram sua contradição, conseguiram o apoio da opinião pública e mantiveram o espaço. Foi criado um Centro Pop em conjunto com o Fecomércio para receber os desabrigados.

Viveu o esplendor da inauguração até o início da década de 70, quando a televisão chegou à capital. O novo entretenimento recebeu mais atenção da população. Na fase decadente, exibia filmes pornô. Tropegou até 1997, quando sua fachada foi tombada como patrimônio público arquitetônico. Parou. Fechou.

Quase foi adquirido por uma poderosa denominação evangélica no começo do milênio. Os artistas, mais uma vez, entraram em campo em defesa do cinema. O movimento Ave Rex, articulado pelo saudoso professor José Reis, manteve a casa. Na virada do século, ele estava parado, mas preservado. Foi reformado em 2005, quando tornou-se uma boate, cuja identidade visual ainda está nas portas. Funcionou até 2015.

Grupo de zap

O jornalista, filósofo, funcionário público, músico, cantor e compositor de mão cheia, Zé Marxs, criou um grupo de whatsapp no dia 23 de abril deste ano, Dia de São Jorge. E de outras efemérides. Na sua descrição, “Estamos entrando na discussão sobre a revitalização do Centro de Teresina, entendendo que a Cultura tem papel central nesse processo, juntamente com as estratégias de repovoamento e qualificação urbana do Centro da nossa cidade.”

Zé Marxs, cantor, compositor e ativista cultural - Foto: Acervo pessoal

O grupo reúne hoje 159 membros. Uma formação bem híbrida, com artistas, jornalistas, radialistas, produtores, funcionários públicos, empresários e um monte de pré-candidatos a vereador da capital. O ponto de partida das ações foi a retomada do funcionamento integral da Central de Artesanato Mestre Dezinho. O projeto tem avançado, com proposições de soluções inteligentes e inovadoras - do jeito que o governador gosta. Mas ainda com pautas a amadurecer.

A situação deplorável do esquecido Cine Rex veio à tona nos primeiros temas de discussão. Um manifesto foi redigido, pedindo a desapropriação ao governador, com grande adesão de apoiadores das diversas linguagens artísticas. O primeiro protesto, na manhã do dia 14 de maio, reuniu poucas pessoas. O segundo, na tarde/noite do dia 23 do mesmo mês, aumentou sobremaneira o volume de participantes. O bolo cresceu.

O debate ganhou as redes. A repercussão mobilizou a sociedade. Ampliou e aprofundou a questão revitalização. Deu frutos. Motivou outros movimentos. Uns oportunistas. Outros oportunos, como o S.O.S Centro. O volume de ações projetou a demanda social com grande apelo. Gerou um fato político, que resultou no êxito. Encerrado com o decreto de desapropriação. Pelo menos a primeira fase.

Foto sem datação do acervo do Coordenação de Registro e Conservação

Em casos emblemáticos como esse, sempre aparece um monte de pai/mãe para a criança. E certamente são muitos/as, mas, o idealizador e articulador da última avalanche em prol do Rex tem nome e sobrenome: o maranhense de Bacabal mais teresinense e piauiense que eu conheço, José Marques de Sousa Filho. E seu timbre vocal idêntico ao do Djavan.

Chegou abalando

O prédio, que destoa em estilo arquitetônico da maioria das edificações fincadas naquilo que restou do sítio histórico ao redor da Praça Pedro II, foi inaugurado em 25 de novembro de 1939. De propriedade inicial de Deoclécio Brito e Bartolomeu Vasconcelos, foi a primeira sala de cinema com esta finalidade a funcionar na capital.

Ao lado do Theatro 4 de Setembro, que manteve exibições regulares de filmes desde 1901. Vindo até 1973, quando foi resgatado pelo governador Alberto Silva, que o reinaugurou em março de 1975. Voltando a funcionar efetivamente como teatro. O Rex rivalizava com a casa de espetáculos exibindo filmes mais novos.

Anos 60, Cine Rex com fila para compra de ingressos - Foto: Internet

“The Great Waltz” ou “A Grande Valsa” foi o primeiro filme que passou na telona do Cine Rex, lançado no mesmo ano que o cinema. Naquela época era como inserir a capital no circuito mundial da sétima arte. Teresina respirava ares de modernidade no início dos anos 40. Na plateia, a nata da aristocracia representada por seus principais titulares. Foi um acontecimento bombástico. Chegou abalando.

O roteiro de Gottfried Reinhardt e Samuel Hoffenstein narra a vida do compositor erudito austríaco, Johann Strauss. Ao tempo em que suas valsas embalavam os casais na Viena de 1845, mantinha um caso tórrido com uma cantora de ópera, com a ciência e o sofrimento explícito da esposa traída. Biografia. Romance. Drama. Musical. Sucesso.

Tentativas em vão

Muitas foram as tentativas de negociar a compra do Cine Rex pelo poder público. O deputado Fábio Novo, representando o Governo do Estado, esteve à frente das várias e fracassadas vezes em que o médico e empresário David Cortelazzi (falecido em 2021, ao 90 anos) atendeu os interessados na possibilidade de vender o Cine Rex. Ele foi o último proprietário. Hoje pertence aos herdeiros.

Tereza e David Cortelazzi, os últimos donos do Cine Rex - Foto: Internet

O cinema foi parar nas mãos do médico de uma forma muito curiosa. Os primeiros proprietários o arrendaram para o senhor Otacílio Soares em 1953. O mesmo adquiriu a sala em 1968, que repassou à JODISA - José Omatti Diversões S/A, da qual também eram sócios, David Delphino Cortelazzi, Jorge Azar Chaib, Elício Pereira Terto, José Omatti, Gervásio Costa e Maria Luiza Tajra Melo. Começava o grande período de esplendor.

Depois de uma ampla reforma, em 1973, que o modernizou, trouxe mais conforto com as instalações de sanitários e sinais luminosos. Com o encerramento das atividades da empresa JODISA, apenas Davi e Elício seguiram na sociedade do cinema. Até que em 1984, passou para a propriedade do médico e da esposa, Theresa Maria Thomaz Tajra Cortelazzi, que também era médica. Pediatra. A primeira mulher inscrita no Conselho Regional de Medicina do Piauí. Falecida em 2021, também aos 90 anos, menos de um mês após o falecimento do marido.

O Rex resistiu às turbulências do mercado cinematográfico internacional. Entrou nos anos 80 absorvendo os estouros das películas de Os Trapalhões e Xuxa, que garantiram uma sobrevida. Combalido, dava seus últimos suspiros, com uma receita sempre em queda. Até que tornou-se deficitária. Todos falam que o empresário amava o velho cinema. Não queria se desfazer dele.

Cine Rex nos anos 80 - Foto: Coordenação de Registro e Conservação

Em meados dos anos 90, quando foi propagada a obra de construção do primeiro grande shopping da cidade, anunciavam a chegada de muitas salas de cinema. Era 1995, mesmo ano em que o Dr. David pediu o tombamento da fachada, que foi efetivada dois anos depois. Era o fim do cinema. Suas exibições ficaram apenas na memória dos seus frequentadores.

Quem não lembra de uma figura antológica como o lanterninha José Epifânio, o “Carvu”. Um tipo bem exótico. Bem-humorado. Muito idoso, vive em Brasília, assistido pela filha. Outra criatura sempre lembrada é o bilheteiro, seu Armando, que está com 88 anos. Um senhorizinho muito simpático, sempre gentil. Atualmente reside na vizinha Timon.

Alguns querem colocar o empresário na posição de vilão por não ter vendido o prédio. Penso diferente. Creio que ele sempre trabalhou no sentido de preservar o cinema. Lutou da forma que pôde. Informações oficiosas dão conta que aceitava vender o prédio por R$ 5 milhões. Valor considerado bem acima do que opera o mercado. Quem entende do ramo imobiliário, a edificação não vale mais de R$ 2 milhões. Só que estamos falando de um prédio histórico, caminhando para os seus primeiros 100 anos. Acho que vale muito mais.

Dr. Davi carregou o cinema nas costas por um longo período. Garantiu o salário dos funcionários e o trouxe funcionando aos trancos e barrancos até quase a virada do milênio. Época em que o cinema não conseguia arrecadar quase mais nada. Se ele não vendeu, talvez não confiasse no projeto de quem queria comprar. É bom lembrar que muitos tentaram comprar. Ele não vendeu a ninguém. Não era venal. Tem a minha gratidão por tudo o que fez pelo Rex.

Cine Escola

No artigo 2º do decreto, revela que o prédio “destina-se à instalação de uma Escola de Cinema, ao estabelecimento de um Cinema de Rua, além de assegurar a preservação e revitalização desse patrimônio cultural piauiense”. Uma saída sensacional. Além de garantir a sobrevivência do cine, o arranjo do exibidor de rua há de cortar a passagem incessante de motos pela Rua Teodoro Pacheco, a antiga Rua Bela.

O Rex nasceu para ser cinema. O que a maioria das pessoas que lida com audiovisual deseja é que ele siga a sua sina. Uma grande parcela da população passou pela plateia. Assistiu a filmes e construiu a sua memória afetiva nas confortáveis poltronas de madeira. Muitos na infância. Eu fui um deles. É mais que natural que siga na linguagem que sempre abrigou. Agora formando novos profissionais do segmento.

Algumas correntes, com objetivos e encaminhamentos diferentes aos do cinema, querem o espaço para as mais diversas finalidades. Inclusive há quem comungue da mesma ideia do prefeito de colocar pessoas em situações de vulnerabilidade para se abrigarem no cinema. O comediante Clóves Monturil defende que o espaço seja o Teatro do Riso - para apresentações exclusivas de humor.

Por falar nisso, o humorista Windersson Nunes, em 2020, afirmou que iria construir dois teatros. Um na capital e outro em Bom Jesus do Gurgueia. Inclusive a futura casa de espetáculos na capital seria batizada de Teatro Dirceu Andrade. Posteriormente, Nunes comentou sobre as dificuldades em adquirir terreno em sua terra natal. Disse que a obra seria na terra dos pais, o município vizinho de Santa Luz. Sobre Teresina não disse mais nada. Por fim, o silêncio. Torcendo para que ele retome o projeto.

Escolas de arte

Quando fala-se em escola que ensine modalidades artísticas, o Piauí sempre encontra um arranjo. Um improviso. Ainda não foi desenvolvido um projeto pensado, planejado e executado com a finalidade de funcionar como escola de artes a partir da planta, da pedra fundamental. As duas mais antigas, Escola de Música Possidônio Queiroz e Escola de Dança Lenir Argento, estão instaladas no Centro Artesanal, que iniciou suas atividades em 1981, no governo Lucídio Portela. Historicamente, foi fundado em 1911. Funcionou como Quartel General da Polícia Militar até 1978.

Na de Dança, há uma sala no piso superior que tem colunas no meio do espaço, tornando-a completamente inviável ao propósito. Um coreógrafo, que já fez parte do corpo docente da escola, relatou que houve acidentes com alunas em uma dessas colunas. Um deles, ele presenciou. A moça teria batido a cabeça, com ferimento que chegou a sangrar.

Na de Música, são comuns e antigas as queixas sobre a falta de qualidade acústica das salas disponíveis para o ensino de instrumentos e de canto. Embora uma reforma em 2016 tenha melhorado as condições, ainda assim não são as ideiais para o exercício do ensino da música. E assim segue-se improvisando na formação de nossos artistas.

A Escola Técnica de Teatro José Gomes Campos é uma das mais penalizadas. Adaptada de um escola da rede pública de ensino estadual, também está na cena do improviso. Anda longe de oferecer um equipamento público com a qualidade que se aguarda para a formação de profissionais de tamanha sensibilidade que é a arte de interpretar. Posteriormente, foram adicionadas outras atividades. O rosário de queixas é gigante.

A performance das “escolas artísticas” deixa todos preocupados com o objetivo de tornar o Cine Rex um centro formador de cinema. Primeiro porque não temos gente habilitada para este fim no estado. Haverá improvisos para formar um grupo docente. Agora que o audiovisual está dando seus primeiros passos para uma fase menos diletante. Não creio que o governador, que representa tão bem a resolutividade, vá repetir o erro de seus antecessores. Há de olhar com carinho para o antigo cine. Sem paliativos.

Abandono

As principais e mais valiosas características do Centro da capital piauiense são suas edificações históricas. As que resistiram em pé. Uma parte significativa virou escombro. Outras, que foram demolidas, hoje são estacionamentos, que vivem às moscas esperando por um veículo para justificar estar aberto. Até os locais para guardar o carro com segurança estão vazios.

O esvaziamento do centro é multifatorial. A construção dos shoppings no final da década de 90 iniciou a mudança do vetor comercial de Teresina. A comodidade de encontrar os mais diversos produtos em um só lugar, com o conforto da climatização numa cidade que fica incrustada no semiárido, foi fatal.

Depois da pandemia, o que vinha deteriorando lentamente, acelerou. Passou a estampar o atual cenário caótico. Num domingo, em alguns trechos do Centro, um indivíduo pode andar nu que ninguém vai dar conta. O que facilita a ocupação por pessoas que nem sempre encontram-se em vulnerabilidade social. Bandidos estavam ocupando casas e empreedimentos abandonados.

A questão da super valorização imobiliária na região central chama a atenção. É incrível como as casas do Centro são caras. Os aluguéis também muito expansivos. Grande parte das moradias é bem antiga, com instalações elétricas e hidráulicas muito problemáticas. Para torná-las habitáveis novamente será necessário um maciço investimento estrutural. Vai sair caro.

Salubridade

No mesmo dia da publicação do decreto, 2 de agosto, a Secretaria de Segurança Pública deu início à Operação Salubridade. Ao todo, 207 imóveis receberam placas notificando que estavam sob monitoramento por abandono. O projeto prevê que as residências em que os proprietários não manifestem interesse em mantê-las ou que não tenham condições para tal, serão desapropriadas e encaminhadas para finalidades sociais.

Operação Salubridade começou no mesmo dia da publicação do decreto, 2 de agosto - Foto: SSP-PI

A reativa veio rápida. Alguns moradores entendem que estão passando de vítimas a vilões. Interpretam que, além de sofrerem com o abandono do poder público, agora podem perder suas propriedades. O vereador Aluísio Sampaio (PP), entende que os donos dos imóveis são vítimas da ausência do poder público. O edil defende que o governo deve ocupar o Centro, oferecendo a prestação de serviços dos órgãos públicos.

Edificações tombadas também estão na lista dos problemas. A manutenção é muito cara. Morar nelas pode não ser seguro pelos constantes roubos, furtos, assaltos e arrombamentos. Muitas vezes são abandonadas porque não há nenhum incentivo em mantê-las diante de custos onerosos. Com o tempo, vão às ruínas e entram para o acervo da memória maltratada de uma cidade que se esvai na lembrança.

O esvaziamento do Centro é como um monstro que vem engolindo tudo. Chegou perto da sede do governo. O Cine Rex está situado há mais ou menos 100 metros do Palácio de Karnak. O Governo do Piauí está agindo pela revitalização da zona central pelo viés da Segurança, que pretende refletir no social. Só não pode esquecer que aquilo que dá liga a qualquer projeto de ocupação ou reocupação passa pelo cultural.

Cultura atrai

As casas podem voltar a ser ocupadas, o comércio pode voltar a atrair uma parte relevante da sociedade, mas as pessoas só vão permanecer se se sentirem identificadas com o seu espaço, sentirem-se parte dele. Isso só é possível com a interferência das ações artísticas-culturais. Vi o Centro bombando com um comércio pujante durante o dia e à noite as atividades culturais mantinham as pessoas no local, inclusive as de outros bairros que vinham para as baladas no Centro.

O corredor cultural está pronto. Pode ser ampliado. A vocação natural para preencher de bens culturais, com muitos artistas compartilhando sua arte é o caminho para revitalizar e atrair uma grande massa de turistas. Os sítios arquitetônicos históricos são os pontos mais valiosos das grandes cidades pelo mundo afora. Teresina não é diferente. Precisa acordar para o tesouro quem tem nas mãos, pronto para ser explorado.

Uma certa vez disse ao Zé Marxs que ele tinha trabalhado mais pela revitalização do Centro da capital do que qualquer ação pública, seja da prefeitura ou do Estado. Durante um bom tempo o Zé manteve o bar Puleiro do Galo e logo depois o Bar dos Otários, na Praça Pedro II. Ele e seu fiel violão atraíram e atraem uma plateia ávida por entretenimento de qualidade. Segue todas as noites das quintas, em frente ao Café Art Bar, despejando suas cantorias e mantendo o espaço vivo.

Já não é mais. O governador Rafael Fonteles e o secretário Chico Lucas passaram na frente com uma só canetada. O poder político iniciou o processo de revitalização. É lento processo. Não será da noite pro dia. Assim como não foi o esvaziamento. Tem muita coisa a ser debatida. Refeita. Repensanda. Reorganizada. Tem muitas pontas que precisam ser unidas. Reunidas. E não esqueçam que a circulação dos bens culturais vai ser a vitamina que manterá os moradores e atrairá visitantes. Inclusive de fora.

Governador Rafael Fonteles e Secretário de Segurança Pública Chico Lucas - Foto: Internet

Figuraça

Muita gente duvidou que a desapropriação se tornaria um fato. Fizeram graça. Tiraram onda. Se o Zé Marxs recebesse os apoios dos colegas que prometem ir nas manifestações, estaria muito empoderado. Tem gente que só protesta no zap. No máximo sobe um vídeo depois da conquista e celebra alegremente. Para quem está de fora, dá a falsa sensação que a pessoa participou de tudo. Ajudou. Nada. E assim tem outros que nem isso fazem, mas querem os melhores resultados.

É quando a gente vê a diferença entre quem mete a mão na massa e gente que está mergulhada em sua indolência. Vi o Zé articulando as manifestações. Ligando para as pessoas. Eu fui um deles a receber a ligação. Disse que se ele conseguisse articular o protesto, daria cobertura midiática registrando o fato. E assim o foi. Muitas vezes conversamos, ajustando detalhes, trocando ideias para fortalecer o projeto que é de todos.

O coletivo. A luta popular. Muito bonito. Muito romântico. Mas normalmente é uma luta solitária. Onde poucos arregaçam as mangas para muitos usufruírem do que for conquistado. Vi o Zé pichando uma faixa de tnt. Ajudei o Zé a fixar o objeto de protesto na fachada baixa do Rex. Venho acompanhando de perto desde o início a luta dele. Muitas vezes resolvendo tudo de bicicleta.

Onde veem uma criatura polêmica, vejo um homem livre e libertário. Onde veem um “porra louca”, vejo um artista super criativo, com responsabilidade social. Generoso. Amigo. O Zé não é um ponto de convergência. Mas consegue atrair e manter uma parte significativa de artistas e demais categorias em torno de uma causa nobre. Isso é poder. Gera inveja em muitos.

O artista, que não esconde o seu idealismo, vai levantando frentes e consegue abrir espaços que poucos conseguem. Na maioria das vezes só com a cara e a coragem. Mas também boas ideias e a capacidade de mobilizar os seus sem tilintar o vil metal. E está dando certo. O que me faz refletir sobre tudo isso.

O Zé certamente não será chamado para tratar sobre o Cine. Já soube que o projeto, que vem de cima para baixo, impositivamente, não caberá um momento de diálogo. Muito incomum em governos democráticos. Talvez revejam após este comentário. Seria ótim o se todos sentassem à mesa para debater o futuro de nossos bens mais preciosos.

Por enquanto, segue com a comum verticalização das decisões, excluindo a parte mais interessada. Um dia o artista será ouvido, respeitado e atendido. Por enquanto, são atitudes assim que fortalecem a expressão “Ditadura Cultural”, que alguns artistas conceituam a atual gestão da Cultura estadual.

Para lutas gigantes, vale a máxima torquatiana: “Cada louco é um exército”. Faz sentido. Com poucos, conseguiu avançar em menos de três meses o que muitos não conseguiram mover um centímetro por anos a fio. Mesmo os que estavam investidos da autoridade por mandato popular. Pode não ser o que todos queriam, mas o Rex está salvo. Isso é o que importa. Era a meta. E a meta foi alcançada. Agora o foco é a Central de Artesanato, segundo afirma o líder dos artistas.

Amanhã, 8, a partir das 17h, os artistas vão reunir-se na frente do Cine Rex para festejar a vitória. Prometem apresentações de vários cantores que se envolveram com a defesa do cinema. A programação prevê que filmes e clipes serão exibidos na fachada do velho cine. Será uma tarde e noite de confraternização. Uma pequena pausa para seguir para outras batalhas. Quem sabe os pré-candidatos a vereador e à Prefeitura possam comparecer.

A conquista que eu atribuo ao Zé, com a sensibilidade do governador Rafael, deixa-nos uma grande lição. É sobre acreditar. Ter fé. Alimentar-se de esperança. Quero parabenizar a todos os envolvidos pela grande conquista. Especialmente a sociedade, que é a mais vitoriosa. Já que estamos em plena Olimpíadas da França, terra de Victor Hugo, de “Les Misérables”, encerro com uma frase antológica do gigante literato: “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã."

DOEPI_151_2024.pdf

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